quinta-feira, 11 de outubro de 2012

ELIAS GOMES E AS PERSPECTIVAS DA CULTURA


Passadas as eleições municipais, Jaboatão em Foco inicia uma série de entrevistas com vários especialistas. Hoje, conversaremos com Adriano Marcena sobre as perspectivas da cultura na nova gestão do prefeito reeleito Elias Gomes.
Jaboatão em Foco – Como o senhor analisa a vitória de Elias Gomes no primeiro turno das eleições com mais de 60% dos votos sobre o segundo colocado?
Adriano Marcena – O prefeito Elias Gomes saiu ainda mais fortalecido nestas Eleições e, de cara, ficou mais uma vez comprovada para Pernambuco sua competência como gestor público. A população do Jaboatão dos Guararapes deixou claro que está satisfeita com a sua atual gestão e por isso depositou nele milhares de votos de confiança para que prossiga com as mudanças em um novo mandato de quatro anos. Afinal, o segundo maior colégio eleitoral e a segunda maior receita do estado estão em Jaboatão dos Guararapes e esses dados não podem ser ignorados.
JF – Sabemos que nem tudo são flores. Há vários problemas para serem resolvidos e, muitos deles, estão no campo da cultura. O senhor acredita que haverá mudanças em relação à cultura no município?
AM – Ressalto que se não existissem problemas clamando por soluções não precisaríamos de governantes. O prefeito Elias Gomes foi reeleito por acreditarmos que ele e sua equipe têm capacidade de melhorar ainda mais a cidade. Bom, sobre as perspectivas na área da cultura creio que haverá mudanças sim. Mas é preciso estar atento à separação do joio e do trigo...Evento de cultura.
JF – Como separar o joio do trigo, ou seja, o evento da cultura?
AM – Ouvi do próprio prefeito e do senhor Francisco Amorim, Secretário de Desenvolvimento Social do município, que o evento quase engoliu a cultura no primeiro mandato e que na próxima gestão a cultura teria mais voz e vez. A Secretaria Executiva fundiu as pastas Cultura e Eventos e, como muitos sabem, os famosos eventos tomaram mais fôlego, ou apareceram mais para a população que os pressupostos de uma política pública de cultura para o município. Sabemos que o evento tem seu lugar na dinâmica social, na economia e no interesse público, mas é preciso olhar com atenção para os novos paradigmas que norteiam a política pública de cultura. Uma coisa, necessariamente, não tem que inviabilizar a outra. Gestão da cultura é algo estratégico nos novos modelos da administração pública. Existe muito dinheiro na esfera estadual e federal para a preservação do patrimônio cultural – artístico, histórico, paisagístico e arqueológico, fortalecimento das identidades, fruição das artes, manutenção de equipamentos culturais – museus, bibliotecas, teatros, centros musicais etc., muita verba para a formação e também para o fomento. Mas é preciso de projetos bem fundamentados, do contrário, a verba não sai de Brasília e nem dos gabinetes do Campo das Princesas. Para os eventos do calendário há uma dotação orçamentária prevista e fica mais fácil sua realização. É bom lembrar que a gestão cultural virou coisa de gente grande, quer dizer, antes, se nomeava um fulaninho que precisa ser agraciado politicamente e a pasta da cultura resolvia o problema. As coisas mudaram de dez anos pra cá. É preciso enxergar a importância política da economia criativa e das inovações, bem como do capital simbólico. Antes, não víamos candidatos a prefeito e a vereador abordado temas voltados à cultura, nas últimas eleições o tema vem ganhando destaque. Os segmentos culturais podem ajudar a eleger um prefeito, mas também podem empobrecê-la ao questioná-la politicamente. Outra coisa interessante é a aproximação da copa do mundo no estado. Muitos gestores municipais serão pegos de surpresa, pois que aspectos das suas identidades municipais serão mostrados aos turistas? Que estratégias estão pensando os prefeitos para que os visitantes experimentem e consumam o que falamos, comemos, imaginamos, dançamos, cantamos, brincamos e festejamos? Uma pergunta básica os turistas farão: quem são esses? Por que se portam assim? Quais elementos permitiram o fortalecimento desse povo? São perguntas que exigem respostas da gestão e que cabe à Secretaria de Cultura respondê-las. E como se responde? Tratando a política pública de cultura como algo estratégico para o município e não como um entulho da administração ou mero depósito para alocar cabos eleitorais que não entendem nada do que trata a Secretaria. Não há mais espaços para improvisos. Então, não dá para tratar a pasta da cultura com estreitezas, vergonha ou temor. A gestão precisará ser menos acanhada para romper as muralhas dos Guararapes e mostrar ao Brasil quem é Jaboatão.
JF – Que caminho seguir? Onde está a orientação?
AM – No Plano Nacional de Cultura que é documento legítimo e que está tramitando em votação no Congresso Nacional. Precisamos propor metas ousadas, planejamento arrojado, debate através de fóruns com os segmentos e corpo técnico que pensem cultura como uma necessidade humana centrada no estético e na sensibilidade da população. É preciso conectar cultura com educação, com turismo, com lazer e com esporte, por exemplo, e garantir à população que tais conexões são iniciativas públicas, pensadas, ou seja, uma visão diferente na nova gestão de Elias Gomes para que assim funcione da maneira desejada. Muitas vezes esquecemos que os valores culturais interagem diretamente e constantemente, numa relação transdisciplinar e multidisciplinar, com tantas outras pastas.
JF – E a arte que espaço ocupa nesses novos paradigmas de cultura pública?
AM – O problema é que se percebiam as artes consolidadas como as únicas manifestações legítimas da cultura de um povo. Vejam bem, artes consolidadas, o que quer dizer que hip-hop, literatura de cordel, cantoria de viola e tantas outras formas de arte popular, estavam fora dos holofotes. O novo paradigma percebe a cultura num panorama mais amplo e menos elitista e que vai muito além das artes: idiomas, costumes, culinárias, modos de vestir, crenças, festejos, criações tecnológicas e arquitetônicas, e também as linguagens artísticas (teatro, música, artes visuais, dança, literatura, circo, etc.). Isso não quer dizer que é o fim da valorização das artes que, segundo o próprio prefeito Elias Gomes, em reunião com alguns artistas, acompanhado de Luiz Carlos Matos, sugeriu a criação de um fórum para debater o tema. O problema é que uma política pública de cultura hoje não se limita às artes, apesar de Jaboatão ter nomes expressivos como Nicola, Alex Mont'elberto, Maraçane de França, Natanael Lima Júnior, Paulo Azevedo Chaves, Yara Tenório, Zeh Rocha, Miró, Doralice Santana, Carmen Couto, Moema, Álvaro Heleno, Vicente Simas, J. Andrade e tantos outros. Artista é uma coisa, gestor público de cultura é outra completamente diferente. O sujeito pode ser até artista, mas terá também que ser um especialista.
JF – Quais as perspectivas da cultura na nova gestão do prefeito reeleito Elias Gomes?
AM – As perspectivas são as melhores possíveis, pois agora me sinto mais seguro para falar, visto que algumas sementes plantadas na primeira gestão deverão dar vigorosos frutos nos próximos anos. Creio na construção de uma nova gestão com mais respeito aos direitos da população, isso é primordial;fazer com que os alunos da rede pública também sejam iniciados na educação patrimonial e também contemplados em programas de formação de novos leitores e das artes; ampliar e fiscalizar as atividades dos NAC’s – Núcleo de Ação Cultural para que exerçam suas nobres funções socioculturais; Casa da Cultura precisa estar mais atenta às novas demandas da população; o Teatro Samuel Campelo precisa ser uma realidade para o movimento das artes cênicas, assim como a garantia do espetáculo da Batalha dos Guararapes; consolidação da Mosteja – Mostra de Teatro de Jaboatão; instituir o PROMAC para a democratização dos recursos públicos da cultura; valorizar fragmentos das identidades locais que foram destruídos pelas gestões anteriores como a Festa de Iemanjá, de Oxum e a Festa da Manga; criação de um centro da capacitação para artistas e produtores culturais; criar parcerias para instituir um centro de formação gastronômico no município; gerar mecanismos econômicos através da cultura para propiciar renda e emprego à juventude; fortalecer o debate sobre questões de identidades para que possamos compreender melhor nossas formas de convivências dentro das coletividades; garantir cidadania através dos projetos de natureza socioculturais e proporcionar o bem-estar dos cidadãos jaboatanenses enquanto seres individuais e coletivos. Enfim, desejo boa sorte ao prefeito Elias Gomes e toda a sua equipe e que juntos façam uma gestão ainda melhor.

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