sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Loteamento ocupa área de manguezal.


Trecho do manguezal do Rio Timbó, em Paulista, Zona Norte do Grande Recife, está sendo aterrado para dar lugar a loteamento clandestino. A ocupação irregular fica na Rua Trajano Fonseca de Albuquerque, em Maria Farinha. Moradores dizem ter denunciado a ação ao poder público, mas após as fiscalizações os construtores retomam a obra.
O designer Antônio Alves, que vive numa casa na mesma rua, estima que o corte do mangue começou em maio. “Desde esse tempo, regularmente policias militares da Cipoma (Companhia de Policiamento do Meio Ambiente) vistoriam o lugar. Quando os PMs vão embora eles voltam a atuar com tratores, jogando barro em cima da vegetação”, descreve o morador.
Os PMs, segundo ele, determinam a paralisação. “Mas dizem que não têm poder para embargar a obra e mandaram a gente procurar os órgãos ambientais da prefeitura e do governo do Estado”, conta Antônio Alves.
O manguezal que está sendo destruído margeia o Rio Timbó. Como Maria Farinha ocupa um istmo, de um lado do lugar fica o rio e do outro o Oceano Atlântico. No local há árvores de mais de 15 metros, típicas de mangue, tombadas. Um muro começou a ser erguido numa área equivalente a aproximadamente dois lotes.
De acordo com os vizinhos, o local, na planta do loteamento, é definido como área verde. “Ou seja, não pode ser ocupado com casas”, diz o morador do número 427, na frente do aterro, que pediu para não ter o nome publicado,
Para evitar novas invasões, vizinhos fecharam o acesso à Rua Saberé, no final da Trajano Fonseca de Albuquerque, com arame farpado. “O dono da casa da esquina, que atravessa a quadra, preferiu manter apenas uma entrada”, detalha uma moradora que solicitou para não ser identificada.
Na opinião dele, o poder público deveria sinalizar a área com placas indicando que se trata de área de preservação. “Pode não resolver, mas pelo menos inibe esses criminosos”, acredita. O loteamento da Rua Trajano Fonseca, segundo o morador, foi implantado em 2002.
Definido como área de preservação permanente pela legislação federal, o manguezal apenas pode ser aterrado mediante lei estadual definindo a área como de utilidade pública ou interesse social.
O pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco Ralf Schwamborn lembra que o manguezal tem importante função ecológica. “Ressaltamos o manguezal como “filtro biológico”, retendo matéria orgânica e poluentes, como metais pesados”, diz.
O pesquisador, vinculado ao Departamento de Zoologia, informa que centenas de espécies usam o manguezal como berçário, ou seja, como abrigo para suas formas jovens. “Entre essas estão inúmeras espécies de importância socioeconômica (camarão, caranguejo, guaiamum, peixes e ostras) e várias ameaçadas de extinção, como o pitu (Macrobrachium carcinus) e mero (Epinephelus itajara).”

Nenhum comentário:

Postar um comentário