quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Com medo de novos ataques, Recife analisa projetos para conter tubarão

Praia de Boa Viagem, no Recife (Foto: Luna Markman / G1)Praia de Boa Viagem, no Recife, concentra 23 dos 59 ataques registrados oficialmente pelo Cemit 
A degradação ambiental na costa de Pernambuco, com supressão de áreas de mangue, poluição de praias e a construção do Porto de Suape, no Litoral Sul, estão entre os fatores apontados por especialistas e ambientalistas para a incidência de ataques de tubarão no Grande Recife. Uma audiência pública nesta sexta-feira (18), no auditório do Ministério Público Federal (MPF), debate formas para prevenir novas ocorrências na orla. A última vítima, uma turista de São Paulo, morreu após ser atacada, há três meses, na Praia de Boa Viagem, um dos cartões-postais da capital pernambucana. O Comitê de Monitoramento dos Incidentes com Tubarão (Cemit) contabiliza 59 ataques com 24 mortes nos últimos 21 anos, quando a contagem começou a ser feita.

Praia de Boa Viagem, no Recife (Foto: Priscila Miranda / G1)O encontro no MPF vai buscar identificar o que tem sido feito pelo estado para evitar ataques, além de novas medidas que podem ser implementadas para dar maior segurança a banhistas e surfistas. O Cemit participa da audiência, trazendo um pouco do trabalho que vem sendo desenvolvido. "Essa audiência é a oportunidade de explicarmos qual o trabalho do Cemit, que é de prevenção e também estudo, além de esclarecer alguns mitos que dão margem para que as pessoas acreditem em soluções absurdas para a questão dos tubarões", explica a presidente do órgão, Rosângela Lessa.

No texto da convocatória da audiência, a procuradora da República Mona Lisa Ismail e o promotor de Justiça Ricardo Coelho explicam que o encontro tem cinco objetivos, como colher subsídios e informações adicionais no que se refere a medidas para prevenção de ataques, discutir alternativas para evitar o aumento do número de vítimas, além de definir ações para evitar a pesca predatória de tubarões. "O Cemit estará lá, juntamente com o MPPE e MPF respondendo a todos os questionamentos, ouvindo sugestões. É a grande oportunidade de debater o tempo, gerir soluções, já que muito pouco vinha sendo feito", aponta o promotor.
Desde o último ataque, foram anunciadas novas placas de sinalização para alertar frequentadores do litoral. De responsabilidade da Secretaria de Defesa Social, a colocação e manutenção das placas estão sendo feitas com o apoio de prefeituras nas praias de Barra de Jangada, Candeias e Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, e do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho.Tela de proteção
Um edital está sendo preparado pelo Cemit para a instalação de uma tela de proteção em caráter experimental, na altura do Edifício Castelinho, mesma região em que ocorreu o ataque à turista paulista Bruna Gobbi. A intenção é criar uma área segura para banhistas, mas que também não prejudique o meio ambiente. "A condição dessa tela é que não pesque, não interaja com o meio ambiente. Não seja um problema para golfinho, tartaruga, tem que ser inócua ambientalmente", destaca a presidente do Cemit, Rosângela Lessa.

O Corpo de Bombeiros também aumentou para três a frota de motos aquáticas disponíveis durante o final de semana, elevou de 53 para 64 o número de guarda-vidas e investiu na sinalização das sete correntes de retorno. Segundo a corporação, a estudante Bruna Gobbi foi puxada por uma dessas correntes quando atacada pelo tubarão na Praia de Boa Viagem.
Jovens entre as principais vítimas
Segundo o Cemit, que registrou 59 ataques de tubarão, 70,2% das vítimas tinham entre 14 e 25 anos. Além disso, 35,1% das ocorrências foram registradas durante o período de Lua cheia.
Dos 59 ataques, 23 ocorreram na Praia de Boa Viagem e 17, na vizinha Praia de Piedade, situada em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR).  Entre 1991 e 2010, a população de Jaboatão cresceu 32,3 % segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indo de 487.119 para 644.620, enquanto no Recife o crescimento foi de 18,45% no período, evoluindo de 1.298.229 para 1.537.704 pessoas.
Urbanização da orla do Grande Recife é apontado também como fator contribuinte para questão dos tubarões. (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Animal de deslocamento fácil
O crescimento populacional na região litorânea, com a consequente urbanização de áreas junto às praias e degradação do meio ambiente, é apontado como um fator de destaque, visto que a destruição de mangues influencia diretamente na vida marinha. “Há um tempo, a gente fazia uma análise meio cartesiana. Dizia que só Suape está causando, só Recife está tendo problema, mas a gente não pode ter essa visão, porque o sistema é um todo. O tubarão é um animal que tem um deslocamento muito fácil. Problemas que aconteçam em Suape vão atingir  aqui. A base costeira de produção de alimento está entre os manguezais e a formação recifal. A gente não tem mais manguezal na zona urbana do Recife praticamente”, aponta o professor Múcio Banja, da Universidade de Pernambuco (UPE).
Um estudo feito pelo Instituto Trata Brasil, divulgado no começo de outubro, fez um ranking da questão do saneamento e água nas 100 maiores cidades brasileiras. No Recife, que ocupa o 69º lugar no ranking, 82% da população recebe água tratada, mas menos da metade da cidade (35%) dispõe de rede de esgoto. Índice inferior é registrado em Olinda, onde 32% dos moradores têm acesso ao serviço. Em Jaboatão, apenas 7% das casas contam com esgoto, o que coloca o município na 97ª posição da lista.
Além da poluição das águas, características de correntes fazem do Recife um dos pontos mais propícios para a ocorrências de ataques, explica o professor Fábio Hazin, do Instituto Oceanário. “Temos a existência de um canal, próximo a essa linha de costa, uma praia populosa, o Rio Jaboatão, com elevada descarga de poluição orgânica, correntes no sentido sul-norte, elevada turbidez, correntes de retorno, a presença de um complexo portuário imediatamente ao sul, e certamente outros que não conhecemos contribuem”, enumera.
Hazin aponta ainda que os tubarões são atraídos pelos navios e, quando as embarcações entram nos diques, os tubarões desviam o percurso e procuram a corrente mais próxima na direção norte. Esta corrente os leva ao Estuário do Rio Jaboatão, onde há banhistas e, consequentemente, risco de vítimas.
Fonte:G1.com

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